A adolescência é hoje conceptualizada como o período situado entre a infância e a vida adulta. Inicia-se com os primeiros indícios físicos da maturidade sexual e termina com a realização social da situação de adulto independente.
No mundo ocidental, corresponde mais ou menos à época entre os 12 e os 20 anos, contudo existem oscilações neste período etário impostas pelas diferenças entre os sexos, etnias, meios geográficos, condições sócio-económicas e culturais.
Num mesmo meio, encontramos grandes variedades de indivíduo para indivíduo: há puberdades muito precoces e outras muito tardias. Por outro lado uma mesma pessoa em diferentes momentos tem diferentes ritmos de maturação.
A adolescência como fase de transição, não foi percecionada da mesma forma ao longo dos tempos: considerada no passado apenas como um breve passagem entre a dependência da infância e a aquisição de responsabilidades da vida adulta. Ou seja, após a maturidade sexual, muitas vezes caracterizada por uma iniciação elaborada, o novo adulto trabalhava, casava e tinha filhos.
Hoje é considerado um período em que os jovens, após momentos de maturação diversificados, constroem a sua própria identidade, os seus pontos de referência, escolhem o caminho profissional e o seu próprio projeto de vida – (crescimento que acarreta algum sofrimento tanto ao adolescente como aos adultos que com ele interagem).
Até ao final do século XIX, a adolescência não era reconhecida socialmente pelos adultos como uma etapa do ciclo vital. Antes desta época, entendia-se que o indivíduo passava diretamente da infância à idade adulta sem transitar por um estádio intermediário, ou por uma fase com características tidas como diferenciadoras e significativas no plano desenvolvimental.
No entanto, apesar de não reconhecida como etapa do ciclo vital, a sua importância não é apanágio dos povos civilizados, pois, entre os povos primitivos, emprestava-se grande significação ao advento da adolescência.
A iniciação da puberdade era o acontecimento mais relevante da educação primitiva, revestindo-se quase sempre de um sentido religioso e de um carácter de formação intelectual e moral. A iniciação representava a receção solene dos adolescentes na comunidade dos adultos.
Nas cerimónias de iniciação, os jovens eram separados da comunidade e enviados para uma residência especial, afastada da aldeia, onde permaneciam sob vigilância dos anciãos da tribo. Inicialmente eram realizadas atividades de carácter purificatório, e de seguida ritos de iniciação, constituídos invariavelmente por educação, ciência e tecnologia representações simbólicas da morte e da ressurreição. Estes, tinham como finalidade, interiorizar nos jovens que deviam morrer para a vida irresponsável da infância e ressuscitar para a vida de deveres e responsabilidades do adulto (Idem).
Na antiga Pérsia, o advento da adolescência era assinalado com uma cerimónia, em que os jovens recebiam o “cinto de virilidade” e faziam um juramento de seguir a lei de Zoroastro e servir ao Estado com fidelidade e heroísmo.
Em Atenas na Grécia antiga, ao completarem dezoito anos, os adolescentes eram recebidos entre os efebos, mediante a sua inscrição no registo da comunidade, desta forma, tornavam-se maiores de idade e aptos para o serviço militar, o qual durava dois anos. Prestavam então o Juramento dos Efebos, este apresentava um carácter religioso, cívico e militar, após o juramento eram apresentados ao povo no teatro, durante as festas Dionisíacas.
Na antiga Roma, os jovens, ao atingirem a adolescência, trocavam a sua túnica com uma franja colorida (toga pretexta) por outra completamente branca (toga virilis).
Durante a Idade Média, emprestou-se também grande significação ao aparecimento da adolescência. Ao alcançar catorze anos, o jovem que, até então, havia servido a uma dama, como pajem ou valete, na corte ou no castelo, tornava-se escudeiro. Depois, ao atingir dezassete anos, partia para longe, a fim de realizar proezas brilhantes que o tornassem digno de receber a ordem da cavalaria. Aos vinte e um anos era armado cavaleiro se tivesse dado provas de brio, coragem e bravura.
A partir do Renascimento, a adolescência perde progressivamente, o seu prestígio social. Pelo menos, nenhuma solenidade assinala o seu aparecimento, o que nos leva a presumir que a importância psicológica e social da adolescência não seria reconhecida pelo mundo moderno. Através das investigações das sociedades primitivas, constata-se que a adolescência não é um fenómeno universal, determinado biologicamente, já que o jovem absorve as influências das instituições sociais e dos fatores culturais do seu meio no processo de desenvolvimento.
Encontram-se estudos antropológicos a respeito da vida dos jovens de Samoa, a evidência de que o desenvolvimento humano, naquela sociedade, segue um padrão de continuidade, sem mudanças repentinas entre uma fase e outra da vida. A adolescência, nesse grupo, é um período tranquilo, lento e gradual.
Retomando aos dados históricos, vemos que as primeiras teorias relativas ao estudo científico da adolescência datam de 1904, com o trabalho pioneiro de Granville Stanley Hall, considerado o pai da psicologia da adolescência. Ele foi o primeiro psicólogo a destacar o período evolutivo da adolescência. .
Muitos são os historiadores que estão de acordo quanto ao situar o nascimento da adolescência, tal como hoje a conhecemos, no decurso da revolução industrial (Cabié e Gammer, 1999). Foi no século XIX que, com as grandes transformações sócio-culturais associadas à revolução industrial, começaram a surgir grandes alterações na definição das etapas da vida. A adolescência começa a ser considerada como um período importante no processo de desenvolvimento do indivíduo e o controlo da família sobre os adolescentes foi-se prolongando até à idade do casamento.
Posteriormente, a adolescência passa a ser entendida mas não valorizada. A “adolescência é então um meio caminho” (Pereira, 1991, p. 147). Pode pois dizer-se que “durante séculos é a infância que é valorizada pela ordem mítico-ritual… enquanto a adolescência é vista como não presente, ou como simples momento de passagem.”
A definição do conceito de adolescência é pouco consensual e complexa. Se é difícil marcar o seu início, maior é a dificuldade em identificar o seu final. Pode dizer-se que o seu início rondará os 11/12 anos, sendo que o seu final estará concluído quando o jovem já terá conseguido concretizar uma série de tarefas, ditas desenvolvimentais, que se expressam no plano intelectual, na socialização, na afetividade e na sexualidade.
Pressupõe-se que quando o jovem se sente suficientemente autónomo (num plano interno) face às figuras parentais, que já terá elaborado o seu próprio espaço de identidade, adquiriu um sistema de valores próprios e que tem capacidade para manter relações estáveis e maduras com o outro.
É geralmente aceite que a adolescência é de preferência um processo e não um período, e que se caracteriza por muitas mudanças pessoais que são frequentemente intensas, como sejam as físicas, as sociais, as psicológicas e as cognitivas. No entanto, e apesar das várias modificações a adolescência nem sempre é vivida e sentida como um período da vida particularmente difícil “… é um período de tempo que envolve perdas e ganhos, que envolve a flutuação e o estabelecimento de novas maneiras de pertencer, e que envolve a aceitação de uma imagem do corpo em mudança, como resultado do início da puberdade.” procriar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a adolescência é definida como um período biopsicossocial, em que ocorrem modificações corporais e de adaptação a novas estruturas psicológicas e ambientais, que conduzem o indivíduo da infância à idade adulta. É um período em que ocorrem grandes modificações físicas, psicológicas e sociais que afetam o indivíduo. É na adolescência que o indivíduo toma consciência das alterações que ocorrem no seu corpo, gerando um ciclo de desorganização e reorganização do sistema psíquico, diferente em cada sexo, mas com iguais complicações conflituosas inerentes à dificuldade de compreender a crise de identidade.
É referido com frequência que a adolescência se inicia com as transformações fisiológicas da puberdade, não deixando de ser condicionada por fatores de ordem social e cultural em interação com o desenvolvimento biológico, intelectual e emocional, o que permite ao indivíduo a sua integração no mundo adulto.
Por outro lado, termina quando o jovem atinge a maturidade social e emocional e adquire a experiência, a habilidade e a vontade, características necessárias para assumir o papel do adulto, de acordo com os padrões culturais do meio onde vive. A adolescência como época da vida marcada por profundas transformações fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afetivas, intelectuais e sociais, mais do que uma fase, é seguramente um processo dinâmico de passagem entre a infância e a idade adulta, processo este que não é uma tarefa fácil para o adolescente.
Este período crítico começa com o início da puberdade, com a entrada em funcionamento dos órgãos sexuais, ocorrendo mais cedo nas raparigas, sensivelmente depois dos dez anos, com o aparecimento da menarca, e mais tarde nos rapazes, com a possibilidade de ejacular, mais ou menos a partir dos doze anos, findando normalmente com o ganho de independência praticamente total do sujeito em relação às figuras parentais. Abre-se-lhe assim a porta à entrada da vida adulta. Esta definição torna de alguma forma difícil, o estabelecimento de limites cronológicos, quer no que respeita ao início da adolescência, uma vez que a função reprodutora varia consideravelmente de indivíduo para indivíduo, por exemplo no que respeita à sua consumação.
Enquanto que nas sociedades antigas estes dois fenómenos ocorriam mais ou menos em simultâneo, marcados por ritos de transição no limiar da puberdade, hoje em dia, a puberdade começa cada vez mais cedo e a idade adulta vai-se atingindo cada vez mais tarde, assistindo-se a um prolongamento da situação de dependência em relação aos pais, devido a fatores de ordem social, educativa, pessoal e económica (Sampaio,1997).
Assim, apesar de ser difícil situar esta fase dentro de limites temporais definidos, podemos dizer que, em termos psicológicos, o final da adolescência exige a realização de uma série de tarefas que “devem ser consideradas como ações reorganizativas internas e externas que o adolescente deve levar a cabo se quiser atingir a idade adulta” A adolescência e o modo como é vivida está diretamente relacionada com a comunidade onde o adolescente está integrado.
Também o modo como é entendida é específica em função da época, do ambiente social, cultural e económico a que se reporta.
Ao longo dos tempos foram várias as tentativas para explicar a adolescência, desde as que se fundamentam nas teorias psicanalíticas a outras que realçam as interações que o adolescente estabelece aos vários níveis dando uma perspetiva relacional/desenvolvimental desta etapa da vida humana. Todas nos ajudam a compreender melhor a nossa adolescência e a estar melhor na dos nossos filhos.